quarta-feira, 13 de abril de 2011

Como Corpo

Experimento a literatura como barco, a luz brilha na cratera dos apontamentos, nunca é tarde, os nomes virão mais tarde, à superfície do véu móvel dos dias. Experimento as páginas para ler sob as árvores,
sob as aves, as aves mobilizadas pela atmosfera límpida, as árvores mobilizadas pela relva, no verde das planícies areadas. As aves escavam o céu, o mar azulado, transparente, o fulgor da espuma inspira-me a escrever na impaciência,
a descrever até à exaustão o que os olhos introduzem na câmara depurada das imagens: o corpo é simétrico ao desejo, aos sulcos do desejo, as veias produtivas do corpo, é nos teus ombros que ondula a euforia do ar,
palavras numa lógica ausente. Afirmo: vulnerável ao desejo inerente desejo. Onde estou sem nenhuma epístola, apenas os lagos da anamnese, a teoria possível de uma verdade multiplicável.
Experimento a literatura como corpo, o espelho brilha na sala aberta às sombras da casa, deambulo num prazer evocativo, na orientação de um pulso, encosto os dedos ao som, o sangue do teu pulso pulsa na corrente, como barco, como barco.
Como corpo. Como corpo.

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